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Robert Todd Carroll

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testemunhos (evidências anedóticas)

Os testemunhos e relatos vívidos estão entre as mais populares e convincentes formas de evidência apresentadas em favor da crença em coisas sobrenaturais, paranormais, e pseudocientíficas. Apesar disso, testemunhos e relatos sobre esses assuntos são de pouco valor para tornar prováveis as alegações que se propõem a apoiar. Versões sinceras e vívidas do encontro de uma pessoa com um anjo ou com a Virgem Maria, um alienígena, um fantasma, um Pé-Grande, uma criança que alegue ter tido uma vida passada, auras roxas em torno de pacientes moribundos, um radiestesista milagroso, um guru que levita ou um cirurgião paranormal, são de pouca valia quando trata-se de estabelecer a razoabilidade de tais crenças.

Relatos não são confiáveis por diversas razões. Histórias são propensas a sofrer contaminação por crenças, experiências futuras, realimentação, atenção seletiva a detalhes, etc. A maioria das histórias distorce-se ao ser contada e recontada. Eventos são exagerados. Seqüências de tempo tornam-se confusas. Detalhes ficam turvos. Lembranças são imperfeitas e seletivas, sendo muitas vezes preenchidas após o fato ocorrer. As pessoas interpretam equivocadamente suas experiências. As experiências são condicionadas por predisposições, lembranças e crenças, de forma que as percepções das pessoas podem não ser exatas. A maioria das pessoas não espera ser enganada, e assim pode não estar atenta a engodos que outras pessoas possam perpetrar. Algumas pessoas fabricam histórias. Algumas histórias são ilusões. Às vezes, eventos podem ser inadequadamente tidos como paranormais simplesmente por parecerem improváveis, quando poderiam não ser tão improváveis assim. Em resumo, relatos são inerentemente problemáticos, e é geralmente impossível testar sua exatidão.

Assim, histórias de experiências pessoais com eventos paranormais ou sobrenaturais têm pouco valor científico. Se outras pessoas não puderem ter a mesma experiência sob as mesmas condições, não haverá nenhuma forma de se verificá-la. Se não houver nenhuma forma de testar-se a alegação que foi feita, não haverá nenhuma forma de se dizer se a experiência foi interpretada corretamente. Mas, se outros puderem experimentar o mesmo, é possível fazer um teste do testemunho e determinar se a alegação baseada nele é digna de crença. Como o parapsicólogo Charles Tart disse uma vez, após relatar um testemunho de um possível evento paranormal: "Levemos isso ao laboratório, onde podemos saber exatamente quais eram as condições. Não temos de dar ouvidos a uma história contada anos depois e esperar que ela seja acurada." Dean Radin também observou que relatos não são boas provas da paranormalidade porque a memória "é muito mais falível do que a maioria das pessoas pensa", e testemunhos oculares "são facilmente distorcidos" (Radin 1997: 32).

Testemunhos a respeito de experiências paranormais são de pouca utilidade para a ciência porque é preciso que o pensamento seletivo e a auto-ilusão sejam controlados em observações científicas. A maioria dos paranormais e radiestesistas, por exemplo, nem sequer percebe que precisa fazer testes controlados de seus poderes para eliminar a possibilidade de que estejam iludindo a si mesmos. Satisfazem-se com o fato de que suas experiências lhes dêem feedback positivo suficiente para justificar a crença em suas capacidades paranormais. Testes controlados de paranormais e radiestesistas provariam, de uma vez por todas, que não estão sendo seletivos em sua coleta de evidências. É comum que essas pessoas recordem seus aparentes sucessos e ignorem ou diminuam seus fracassos. Testes controlados podem também determinar se outros fatores, como a trapaça, poderiam estar presentes.

Se esses testemunhos são cientificamente irrelevantes, por que são tão populares e tão convincentes? Há várias razões. Os testemunhos são freqüentemente vívidos e detalhados, o que os faz parecer críveis. São, muitas vezes, contados por pessoas confiáveis e honestas, e que não têm nenhum motivo para nos enganar. Muitas vezes são feitos por pessoas com alguma aparência de autoridade, como as que possuem um Ph.D. em psicologia ou física. Em alguma medida, as pessoas acreditam em testemunhos porque querem acreditar neles. Freqüentemente, as pessoas anseiam com esperança por algum novo tratamento ou instrução. A pessoa dá um testemunho logo após a experiência, quando seu ânimo está ainda elevado pelo desejo de um desenrolar positivo. Dá-se à experiência e ao testemunho que ela gera uma significância maior que merecem.

Por fim, é preciso observar que os testemunhos são freqüentemente usados em muitas áreas na vida, inclusive ciências médicas, e que dar a devida consideração a eles é considerado sensato, não tolo. Um médico pode usar os testemunhos de seus pacientes para tecer conclusões sobre determinados remédios ou procedimentos. Por exemplo, o médico obterá evidências anedóticas de um paciente a respeito de uma reação a um novo medicamento e usá-la na decisão de ajustar a dosagem prescrita, ou substituir o medicamento. Isto é bastante razoável. Mas o médico não pode ser seletivo ao ouvir o testemunho, escutando apenas as alegações que se encaixem em suas idéias pré-concebidas. Fazer isso é arriscar-se a prejudicar o paciente. As pessoas comuns igualmente não devem ser seletivas ao ouvir testemunhos a respeito de alguma experiência paranormal ou oculta.

Veja também hipóteses ad hoc, navalha de Occam, leitura a frio, reforço comunitário, estudos controlados, efeito placebo, falácia post hoc, pensamento seletivo, auto-ilusão, validação subjetiva e wishful thinking.


leitura adicional

Radin, Dean. (1997). The Conscious Universe - The Scientific Truth of Psychic Phenomena. HarperCollins

Stanovich, Keith E. How to Think Straight About Psychology, 3a edição,  (New York: Harper Collins, 1992)

©copyright 2005
Robert Todd Carroll

traduzido por
Ronaldo Cordeiro

Última atualização: 2007-05-29

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