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Robert Todd Carroll

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experimentos ganzfeld

Os experimentos ganzfeld ("campo total") têm sido aclamados por muitos parapsicólogos como fonte de provas científicas da telepatia ou da clarividência.

Esses experimentos possuem três fases.

1. Preparação do receptor (receiver) e do transmissor (sender). O receptor é colocado numa cadeira confortável. Coloca fones de ouvido que tocam ruído branco http://www.unet.univie.ac.at/~a9708242/text.htm ou rosa continuamente. [Ruído branco é um tipo de ruído produzido através da combinação de sons de todas as diferentes freqüências. Quando se combinam todos os tons imagináveis que um ser humano pode ouvir, obtém-se ruído branco. Isso mascara quaisquer sons distinguíveis e praticamente elimina as informações sensoriais com origem no som. Ruído rosa é o ruído branco sem as freqüências altas, e soa como uma queda d'água.] Colocam-se metades de bolas de pingue-pongue sobre os olhos. Uma luz vermelha ilumina o rosto. Antes que o teste se inicie, toca-se uma fita de relaxamento, a fim de colocar a pessoa num estado relaxado. Após vários minutos de campo sensorial inalterado, o receptor supostamente atinge um estado semelhante ao de estar numa câmara de isolamento sensorial. É comum relatarem-se alucinações nesse estado. Antes que se sele o receptor na câmara de ganzfeld, pede-se a ele que diga em voz alta o que está sentindo ou "vendo", e ele o faz por cerca de 20 minutos.

2. Transmissão do alvo. Em outra sala, um assistente já selecionou uma imagem de um pacote de alvos, dentro de um grande conjunto de pacotes. Cada um tem quatro figuras ou vídeos que são bastante diferentes um do outro. O alvo fica dentro de um envelope opaco. O experimentador é cego para esse conteúdo. O assistente entrega a ele o envelope. O experimentador o entrega ao transmissor, que é fechado na sala. O transmissor tenta comunicar o alvo ao receptor telepaticamente. São feitos intervalos e o processo de envio é repetido várias vezes. Em muitos desses experimentos, a seleção do alvo é automatizada (autoganzfeld). [Isso foi feito em resposta às críticas de Ray Hyman sobre a casualização dos alvos.] O experimentador tem comunicação direta com a sala do receptor, e pode ouvir e gravar tudo o que ele diz, assim como comunicar-se com ele. A sala do transmissor é equipada para ouvir o que o receptor diz. Isso é considerado um "feedback", supostamente útil para guiar o transmissor para que altere seu método de transmissão telepática.

3. Avaliação do resultado. O processo inteiro dura de 15 a 30 minutos. O receptor é libertado dos fones e das coberturas dos olhos e "apresentado a vários estímulos (geralmente quatro) e, sem saber qual deles era o alvo, tem de relacionar o grau em que cada um deles coincide com as imagens e pensamentos experimentados durante o período de ganzfeld. Se o receptor atribuir a maior pontuação ao estímulo que corresponde ao alvo, isso é registrado como um "acerto". Assim, se o experimento usa conjuntos de avaliação que contêm quatro estímulos (o alvo e três iscas, ou estímulos de controle), a taxa de acertos esperada por acaso é de 0,25" (Bem e Honorton 1994).

Se a taxa de acertos é significativamente superior ao acaso (25%), os pesquisadores tomam isso como evidência de psi. Senão, tomam como evidência do que seria esperado por simples palpites.

Os primeiros estudos ganzfeld importantes foram feitos por Charles Honorton, William Braud e Adrian Parker, dos meados de 1970 aos de 1980.

Segundo Dean Radin, esses experimentos oferecem provas científicas da existência de psi. "Temos plenas justificativas para ter confiança muito alta de que algumas pessoas às vezes obtenham pequenas quantidades de informações específicas à distância, sem o uso dos sentidos comuns. Efeitos psi realmente ocorrem no ganzfeld" (Radin 1997: 88).

No que consistem essas provas cientificas? Honorton alegou que 55% dos estudos entre 1974 e 1981 obtiveram resultados significativos. Ray Hyman avaliou esse grande volume de trabalhos e criticou a alegação de Honorton em vários aspectos, entre os quais o problema da gaveta de arquivo e relato tendencioso não foram os menores (Hyman 1989: 28). Hyman alegou, diante de uma reunião conjunta da Society for Psychical Research e da Parapsychological Association (Agosto de 1982) que havia estimado a taxa efetiva de erro dos estudos em cerca de 0,25. Honorton sustentava que a taxa de erro era cerca de 0,05. Hyman concluiu que a base de dados psi ganzfeld era "inadequada, quer para apoiar o estudo como reprodutível, quer para demonstrar a realidade de psi" (Hyman 1989: 53). Grande parte de sua análise inicial foi focalizada em problemas estatísticos e na falta de coerência entre os diversos estudos. No entanto observou, entre outras coisas, que, dos 36 estudos com resultados positivos, 50% deles vinham de apenas quatro pesquisadores.

Em 1986, Hyman e Honorton emitiram um comunicado conjunto no qual concordaram que havia um efeito significativo global na base de dados ganzfeld "que não podia ser razoavelmente explicada por relato seletivo ou análise múltipla", mas que continuavam "a divergir a respeito do grau em que o efeito constituiria evidência de psi" (Hyman 1989:  63). Estipularam então alguns padrões restritivos aos quais futuros experimentos deveriam aderir.

Em 1994, Bem e Honorton publicaram os resultados de uma meta-análise de 28 estudos ganzfeld, dos quais 23 tinham resultado em taxas de acerto superiores ao esperado pelo acaso. A taxa de acertos global foi de 36%, quando o previsto pelo acaso seriam 25%. Os resultados, segundo Dean Radin, tinham "probabilidade de dez bilhões contra uma contra o acaso". Uma análise posterior de Honorton recalculou as probabilidades contra o acaso como 10.000 para uma, com a reprodução em oito outros laboratórios além do de Honorton. A análise posterior, alega Radin, eliminou o efeito gaveta como questão relevante, embora a fórmula estatística usada para substanciar essa alegação tenha sido considerada enganosa (Stenger 2002).

Quando os estudos granzfeld foram automatizados, a fim de se eliminarem potenciais vícios e fornecimento de pistas por parte dos investigadores ao selecionar e apresentar os alvos, os resultados foram semelhantes aos dos estudos anteriores. Por exemplo, onze estudos com 240 participantes em 354 sessões apresentaram uma taxa de acertos de 32%, quando seriam esperados 25% por acaso.

Os estudos foram reproduzidos? Julie Milton e Richard Wiseman publicaram sua própria meta-análise de estudos ganzfeld e concluíram que "a técnica ganzfeld não oferece, no presente momento, um método reprodutível para a produção de ESP em laboratório" (1999).

mais problemas

Os experimentos ganzfeld são baseados em dois pressupostos questionáveis. O primeiro é de que estados mentais em que há informações sensoriais reduzidas conduzem mais fortemente a psi. Em especial, acredita-se que o estado meditativo, o estado de sonho, o estado hipnagógico, o estado hipnótico, estados de privação sensorial e determinados estados induzidos por drogas conduzem a psi. No entanto, embora acredite-se que a mente nesses estados esteja alerta e receptiva a psi, isso jamais foi provado (Blackmore 2004: 298). Porém, Bem e Honorton (1994) afirmam que

Historicamente, psi tem sido freqüentemente associado a meditação, hipnose, sonhos e outros estados alterados de consciência que ocorrem naturalmente ou são induzidos. Por exemplo, a idéia de que fenômenos psi podem ocorrer durante a meditação é expressa na maioria dos textos clássicos sobre técnicas meditativas. A crença de que a hipnose seja um estado condutivo a psi data dos primórdios do mesmerismo (Dingwall, 1968) e pesquisas multi-culturais indicam que a maioria das experiências psi da "vida real" relatadas são mediadas através de sonhos (Green, 1960; Prasad & Stevenson, 1968; L. E. Rhine, 1962; Sannwald, 1959). Atualmente há relatos de evidências experimentais coerentes com as daquelas observações originadas em depoimentos. Por exemplo, vários investigadores em laboratórios relataram que a meditação facilita a atuação de psi (Honorton, 1977). Uma meta-análise de 25 experiências com hipnose e psi, conduzidas entre 1945 e 1981 em 10 diferentes laboratórios, sugere que a indução hipnótica facilite a atuação de psi (Schechter, 1984). E psi mediado por sonhos foi relatado numa série de experiências conduzidas no Maimonides Medical Center, em Nova York, e publicadas entre 1966 e a972 (Child, 1985; Ullman, Krippner & Vaughan, 1973).

Nos estudos de sonhos do Maimonides, dois participantes -- um "receptor" e um "transmissor" -- passaram a noite num laboratório do sono. As ondas cerebrais e movimentos dos olhos dos receptor foram monitoradas, enquanto dormia numa sala isolada. Quando o receptor entrava num período de sono REM, o experimentador apertava uma campainha que sinalizava ao transmissor -- sob a supervisão de um segundo experimentador -- para que iniciasse um período de transmissão. O transmissor então se concentrava numa figura aleatoriamente escolhida (o "alvo"), objetivando influenciar o conteúdo dos sonhos do receptor.

Perto do fim do período REM, despertava-se o receptor e pedia-se que ele descrevesse qualquer sonho que tivesse acabado de experimentar. Esse procedimento foi repetido por toda a noite com o mesmo alvo. Uma transcrição dos sonhos do receptor eram entregues a julgadores externos que classificavam cegamente a semelhança dos sonhos da noite a várias imagens, inclusive o alvo.

Este não é o lugar adequado para tentar refutar todas essas alegações, portanto me limitarei a um comentário sobre os experimentos do Maimonides sobre telepatia dos sonhos. Essas experiências foram feitas de uma forma em que dados ambíguos poderiam facilmente ser encaixados de forma a dar respaldo à hipótese da telepatia. Por exemplo, em um dos experimentos o alvo era a Descida da Cruz, de Max Beckman. Max Beckman: The Descent from the Cross (1917) Os experimentadores e Dean Radin cosideraram a telepatia um sucesso porque o receptor sonhou por duas vezes com Winston Churchill. Radin escreveu: "Notem a relevância simbólica de 'church-hill' [N.T.: igreja-colina em inglês] no sonho relatado" (Radin 1997: 70). "Observa-se que a taxa global de acerto é de 63%... O intervalo de confiança de 95% exclui claramente a taxa de acerto de 50% esperada pelo acaso" (Radin 1997: 71). E então?

Enquanto os experimentos ganzfeld em si não permitam que tais interpretações vagas sejam contabilizadas como "acertos", alguns pesquisadores ganzfeld se impressionam bastante com ambigüidades parecidas.

Por exemplo, abaixo há uma transcrição de uma descrição verbal feita por um receptor num experimento autoganzfeld. Ela foi tirada de uma página (atualmente extinta) do site do Dr. Rick Berger sobre ganzfeld. Berger desenvolveu o autoganzfeld

Eu vejo o memorial de Lincoln...
E Abraham Lincoln sentado lá... É
4 de julho... Todo tipo de fogos de artifício...
Agora estou em Valley Forge... Há
fogos... E penso em bombas
explodindo no ar... E Francis Scott
Key... E Charleston...

Há umas poucas imagens que poderiam "coincidir" com essa descrição, já que ela em si contém pelo menos oito imagens distintas (o memorial de Lincoln, Lincoln, 4 de julho, fogos, Valley Forge, bombas, Scott Key, Charleston) às quais se poderia facilmente acrescentar mais algumas, como a bandeira dos EUA, o hino nacional americano. E, claro, George Washington, que foi a imagem selecionada como a que mais se assemelhava à descrição verbal. Berger parece pensar que essas impressões foram geradas pela imagem de George Washington que o transmissor tentava enviar telepaticamente. Não parece ocorrer a ele que poderia haver uma dúzia de outras razões para que o receptor tivesse as visões que teve.

A segunda presunção dos experimentadores ganzfeld é a que é feita por muitos parapsicólogos. Assumem que qualquer afastamento significativo das leis do acaso em seus experimentos é evidência de que algo paranormal ocorreu. Isso é assumir o que se quer provar. O desvio em relação ao acaso poderia se dever a psi. Também poderia se dever a alguma outra coisa.

Pode ser justificável que tenhamos uma confiança muito alta de que, quando se fazem estudos ganzfeld, os receptores provavelmente acertam corretamente um alvo entre quatro numa taxa significativamente maior que esperada pelo acaso. Ainda assim é um grande salto assumir que informações foram transmitidas e que essa transferência se deu por meios paranormais. Dizer que não se pode pensar em nenhuma outra explicação para os dados e que um cético não pode oferecer uma explicação naturalista para isso não justifica uma alta confiança em que a telepatia tenha sido provada.

Mesmo se estivermos confiantes de que nossos controles eliminaram coisas como trapaça, vazamento sensorial, casualização inadequada, palpites felizes, reconhecimento inconsciente de padrões, etc, como podemos ter certeza de que a única explicação razoável para o que parece ser uma transferência de informação é de fato uma transferência genuína de informação? E como podemos ter certeza de que algum outro fator que não controlamos, ou porque não pensamos ou porque não podíamos pensar nele, não é responsável pela anomalia? Como argumenta o psicólogo James Alcock, a anomalia pode não representar uma transferência legítima de informação. Pelo que sabemos, Zeus poderia ser responsável por ela.

O desvio do que se espera pelo acaso poderia se dever a qualquer combinação de influências -- um 'gerador aleatório' não-aleatório, diversas falhas metodológicas, ou... Zeus. (Eu poderia argumentar que Zeus existe e gosta de atormentar parapsicólogos, por isso dá a elas resultados significativos de quando em quando, mas não permite a reprodução fora da parapsicologia. O resultado significativo ofereceria tanto apoio à minha hipótese de que Zeus existe quanto à hipótese Psi de que a vontade do sujeito teria causado os resultados). (Alcock 2003: 43)

Assim, mesmo se forem obtidas probabilidades contra o acaso, sempre é possível que isso nada tenha a ver com telepatia. Pode não ter nada a ver com Zeus. Mas é possível que tenha a ver com algo natural que não foi levado em conta. Apesar disso, afirma Dean Radin, temos que admitir que "algo interessante está acontecendo" (1997: 79). Mas seria telepatia ou clarividência? Não sei. Seria Zeus? Duvido, mas também duvido que seja telepatia ou clarividência. No entanto, minhas dúvidas são irrelevantes com relação ao que realmente está acontecendo. O melhor que podemos dizer é que não sabemos por que alguns participantes percebem os alvos numa taxa não aleatória. Pode ser que valha a pena estudar esses sujeitos, não para verificar se são capazes de transmitir informações, embora pudéssemos fazer isso, mas já sabemos que os resultados não mostrariam nenhuma transferência de informação. Sabemos disso porque, se fosse possível que qualquer pessoa transmitisse informações telepaticamente de uma maneira inequívoca, isso já teria sido feito.

Veja verbetes relacionados sobre predisposição para a confirmação, ESP, efeito experimentador, lei dos números muito grandes, estatística oculta, parapsicologia, ciência patológica, PEAR, falácia post hoc, e psicocinese.

leitura adicional

Alcock, James. Jean Burns e Anthony Freeman. Psi Wars: Getting to Grips with the Paranormal (Imprint Academic 2003).

Bem, Daryl J. e Charles Honorton (1994). "Does Psi Exist?" Psychological Bulletin, Vol. 115, No. 1, 4-18.

Blackmore, Susan (2003). Consciousness: An Introduction. Oxford University Press.

Hyman, Ray (1995). "Evaluation of Program on Anomalous Mental Phenomena," Journal of Scientific Exploration, Volume 10 Número 1.

Hyman, Ray (1989). The Elusive Quarry: a Scientific Appraisal of Psychical Research.  Prometheus Books.

Milton, J. e R.Wiseman (1999). "Does psi exist? Lack of replication of an anomalous process of information transfer." Psychological Bulletin, 125 (4), 387-391.

Radin, Dean (1997). The Conscious Universe - The Scientific Truth of Psychic Phenomena. HarperCollins.

Schick Jr., Theodore and Lewis Vaughn (2001). How to Think About Weird Things 3rd. ed. McGraw Hill.

Stenger, Victor J. (2002). "Meta-Analysis and the File-Drawer Effect." Skeptical Briefs.

©copyright 2004
Robert Todd Carroll

traduzido por
Ronaldo Cordeiro

Última atualização: 2004-08-23

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