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Criacionistas e Ciência da Criação

O cristianismo fundamentalista militante tem uma resposta para tudo, menos para o preconceito e a ignorância.

...a evolução do cosmo é mais do que apenas "compatível" com o teísmo. A fé em um Deus de amor altruista ... prevê um universo em evolução.* John F. Haught

O criacionismo é uma teoria metafísica religiosa sobre a origem do universo. Ela não é uma teoria científica. Tecnicamente, o criacionismo não é necessariamente conectado a nenhuma religião em particular. Ele simplesmente exige a crença em um Criador. Milhões de cristãos e não-cristãos acreditam que haja um Criador do universo e que teorias científicas como a teoria da evolução não sejam conflitantes com a crença em um Criador. Entretanto, fundamentalistas cristãos como Ronald Reagan, Jerry Falwell, Pat Robertson, Oral Roberts, etc., se apoderaram do termo "criacionismo" e agora é difícil se referir a criacionismo sem ser entendido como referente a fundamentalistas cristãos que (a) interpretam as histórias de Gênesis como relatos precisos da origem do universo e da vida na Terra, e (b) acreditam que o Gênesis é incompatível com a teoria do Big Bang e a teoria da evolução. Logo, é comum se assumir que os criacionistas são cristãos que acreditam que o relato da criação do universo, conforme apresentado em Gênesis, é literalmente verdadeiro, em suas afirmações básicas sobre Adão e Eva, os seis dias da criação, etc., e não uma alegoria.

Ciência da Criação é um termo usado por certos criacionistas para indicar que eles acreditam que o Gênesis é um relato científico da origem do universo. A leitura da Bíblia como se ela fosse um texto científico contradiz a teoria do Big Bang e a teoria da evolução. Os "Cientistas da Criação" dizem que essas teorias são falsas e que os cientistas que advogam tais teorias são ignorantes da verdade sobre as origens do universo e da vida na Terra.

Um dos principais líderes da ciência da criação é Duane T. Gish, do Instituto para Pesquisa da Criação, que divulga suas idéias em conjunto com ataques à evolução. Gish é o autor de Evolution, the Challenge of the Fossil Record (Evolução, o Desafio do Registro Fóssil) (San Diego, Calif.: Creation-Life Publishers, 1985) e Evolution, the Fossils Say No (Evolução, os Fósseis Dizem Não) (San Diego, Calif.: Creation-Life Publishers, 1978). Outro líder deste movimento é Walt Brown, do Centro para Criacionismo Científico. Nem Gish nem Brown parecem entender a diferença entre um fato e uma teoria. Eles proclamam em voz alta que a evolução é apenas uma teoria e que ela é falsa. Teorias científicas não são verdadeiras ou falsas. Elas são explicações de fatos. Que as espécies evoluíram a partir de outras espécies, é considerado por 99,99% da comunidade científica como um fato científico. Como as espécies evoluíram é o que se espera que a teoria da evolução explique.

A teoria de Darwin de como a evolução aconteceu é chamada de seleção natural. Esta teoria é bastante distinta do fato da evolução. Outros cientistas têm diferentes teorias da evolução, mas apenas um número desprezível deles nega o fato da evolução. Gish não está fazendo ciência quando argumenta contra o fato da evolução. Ele não tem nenhum interesse em fatos ou teorias científicas. Seu interesse é em apologética: defender a fé contra o que ele vê como ataques à Verdade de Deus. Todos os seus argumentos são defensivos; são tentivas de mostrar que as evidências não apoiam o fato científico da evolução.

Os criacionistas, confundindo o incerto na ciência como anticientífico, vêem o debate entre os evolucionistas a respeito de como melhor explicar a evolução como um sinal de fraqueza. Os cientistas, por outro lado, vêem a incerteza simplesmente como um elemento inevitável do conhecimento científico. Eles consideram os debates sobre questões teóricas fundamentais como saudáveis e estimulantes. A ciência, diz o biólogo evolucionário Stephen Jay Gould, "é mais divertida quando joga com idéias interessantes, examina suas implicações, e descobre que informações antigas podem ser explicadas de maneiras surpreendentemente novas." Assim, apesar de todos os debates a respeito de mecanismos evolucionários, os biólogos não foram levados a duvidar de que a evolução ocorreu. "Nós estamos debatendo como ela aconteceu," diz Gould (1983, p. 256).

"ciência da criação" e pseudociência

A ciência da criação, por outro lado, não é ciência e sim pseudociência, e está conectada a um grupo particular de fundamentalistas cristãos. A maioria dos cristãos, fundamentalistas ou não, provavelmente nunca ouviu falar de ciência da criação. Como os criacionistas de todo tipo, a "ciência da criação" propaga suas afirmações como absolutamente certas e imutáveis. Ela assume que o mundo deve se moldar à Bíblia. Ela assume que a Bíblia não precisa de nenhuma revisão e que não pode conter nenhum erro. O ponto onde a ciência da criação difere do criacionismo em geral é em sua noção de que, uma vez que ela tenha interpretado que a Bíblia quer dizer algo, não se pode aceitar que nenhuma evidência mude esta interpretação. Em vez disso, a evidência deve ser refutada.

Compare esta atitude com a dos principais criacionistas europeus do século 17, que acabaram tendo que admitir que a terra não era o centro do universo e que o sol não gira em torno do nosso planeta. Eles não tiveram que admitir que a Bíblia estava errada, mas tiveram que admitir que as interpretações humanas da Bíblia estavam erradas. Os cracionistas de hoje parecem incapazes de admitir que sua interpretação da Bíblia poderia estar errada.

Os cientistas da criação não podem ser vistos como cientistas de verdade porque assumem que sua interpretação da Bíblia não pode estar errada. Eles divulgam suas visões como irrefutáveis. Logo, quando as evidências contradizem sua leitura da Bíblia, eles assumem que as evidências são falsas. A única investigação que eles parecem fazer é quando se esforçam para provar que alguma afirmação científica é falsa. A ciência da criação não vê nenhuma necessidade de testar suas teorias, já que elas foram reveladas por Deus. Uma teoria que é absolutamente certa não pode ser testada empiricamente, mas a testabilidade empírica é o selo de qualidade de uma teoria científica. Alegações de infalibilidade e a exigência da certeza absoluta não caracterizam ciência, mas pseudociência.

O que é mais revelador sobre a falta de qualquer verdadeiro interesse científico por parte dos criacionistas militantes, é a maneira com que eles aceitam com disposição e acriticamente até a mais absurda das afirmações, se tais alegações pareçam contradizer crenças científicas sobre a evolução. Em particular, qualquer evidência que pareça apoiar a noção de que dinosauros e humanos viveram juntos é bem recebida pelos criacionistas militantes.

"ciência da criação" não-científica

A teoria do criacionismo científico é um bom exemplo de teoria não-científica porque ela não pode ser falseada. "Eu posso imaginar observações e experiências que desprovariam qualquer teoria evolucionária que eu conheço", escreve Gould, "mas eu não consigo imaginar que dados potenciais poderiam levar os criacionistas a abandonar suas crenças. Sistemas invencíveis são dogmas, não ciência" (Gould, 1983). O que faz do criacionismo científico uma pseudociência é que ele tenta se pasar por ciência mesmo não compartilhando nenhuma das características esseciais da teorização científica. A ciência da criação continuará para sempre inalterada como teoria. Ela não engendrará nenhum debate entre cientistas sobre mecanismos fundamentais do universo. Ela não gerará nenhuma previsão empírica que possa ser usada para testar a teoria. Ele é tida como irrefutável. Ela assume a priori que não pode haver nenhuma evidência que algum dia venha a falseá-la.

Quando os cientistas da criação realmente se aventuram em uma área científica, tal como a segunda lei da termodinâmica, eles remendam a ciência e são notórios pela enganação e representação errônea. Entretanto, sua reputação de desonestidade talvez seja imerecida, já que suas apresentações científicas ineptas talvez sejam devidas a simples incompetência.

ciência real

A história da ciência, entretanto, claramente mostra que teorias científicas não permanecem eternamente inalteradas. A história da ciência não é a história de uma verdade absoluta sendo construída sobre outras verdades absolutas. Ao invés disso, é a história da teorização, teste, discussão, refinamento, rejeição, substituição, mais teorização, mais teste, etc. É a história de teorias funcionando bem por um tempo, a ocorrência de anomalias (ou seja, novos fatos sendo descobertos, que não se encaixam com as teorias estabelecidas), e novas teorias sendo propostas e acabando por substituir parcialmente ou completamente as antigas.

Naturalmente, é possível que cientistas atuem anticientificamente, sejam dogmáticos ou desonestos. Mas o fato de que alguém descubra um excêntrico ou charlatão ocasional na história da ciência (ou uma pessoa íntegra e genial entre pseudocientistas) não implica em que realmente não haja nenhuma diferença entre ciência e pseudociência. Em virtude da natureza pública e empírica do debate científico, os charlatães serão descobertos, os erros serão corrigidos, e a busca honesta pela verdade provavelmente irá prevalecer no final. Este não será o caso das pseudociências tais como a ciência da criação, onde não há nenhum método necessário para a detecção de erros (desde que ela não pode errar) muito menos para corrigí-los.

Algumas teorias como o criacionismo não podem ser refutadas, mesmo em princípio, porque tudo é consistente com elas, mesmo aparentes contradições e contrariedades. Teorias científicas permitem que sejam feitas previsões definidas a partir delas; elas podem, em princípio, ser refutadas. Teorias como a do Big Bang e a do estado estável podem ser testadas através de experiência e observação. Teorias metafísicas como o criacionismo são herméticas se forem auto-consistentes, ou seja, não contiverem elementos auto-contraditórios. Nenhuma teoria científica é hermética.

criacionismo como teoria científica

Uma teoria da criação sustentada por um grupo religioso pode, entretanto, ser científica. Por exemplo, se uma teoria afirma que o mundo foi criado em 4004 A.C, mas as evidências indicam que a terra tem bilhões de anos de idade, então a teoria é científica se ela for conseqüentemente tida como refutada pelas evidências. Mas se, por exemplo, for formulada uma hipótese ad hoc de que Deus criou o mundo em 4004 A.C. completo com fósseis que fazem a Terra parecer muito mais antiga do que ela realmente é (para testar nossa fé, talvez, ou para concretizar algum misterioso plano divino), então a teoria religiosa é metafísica. Nada poderia refutá-la; ela é hermética. Philip Henry Gosse fez esta afirmação na época de Darwin em uma obra intitulada Criação (Omphalos): Uma Tentativa de Desatar o Nó Geológico, publicada em 1857.

Se a idade ou as técnicas científicas de datação da evidência fóssil são questionadas, mas consideradas relevante para a veracidade da teoria religiosa e são prejulgadas como consistentes com a teoria, então a teoria é metafísica. Uma teoria científica não pode prejulgar o que seus resultados investigativos deverão ser. Se o cosmologista religioso nega que a terra tem bilhões de anos de idade com base em que seus próprios testes "científicos" provam que a Terra é muito jovem, então o ônus da prova é o do cosmologista religioso de demonstrar que os métodos científicos padrão e técnicas de datação de fósseis, etc., são errôneos. Caso contrário, nenhuma pessoa razoável levaria em consideração uma afirmação não comprovada como esta, que exigiria que nós acreditássemos que toda a comunidade científica estivesse errada. Gish tentou isso. O fato de ele ser incapaz de converter mesmo um pequeno segmento da comunidade científica à sua maneira de pensar, é uma forte indicação de que seus argumentos têm pouco mérito.

A natureza anticientífica dos cosmologistas religiosos pseudocientíficos é evidente, não apenas na sua preocupação principal em fazer com que os fatos se encaixem em uma teoria preconcebida. Esta é uma tendência humana que afeta aos cientistas também. A natureza anticientífica dos cientistas da criação é evidente na crença de que a verdade absoluta já foi revelada e que a pesquisa científica não é necessária para a busca da verdade. Para o cientista da criação, a verdade não é algo que deva estar constantemente aberto ao questionamento, refinamento e, possivelmente, rejeição. Para o cientista da criação, a verdade parece ser uma coisa que é considerada como concedida apenas a pessoas especiais, a quem é confiada a tarefa de mantê-la e guardá-la para sempre.

criacionistas metafísicos

Há muitos crentes em uma cosmologia religiosa como a que é apresentada em Genesis que não alegam que suas crenças são científicas. Eles não acreditam que a Bíblia deva ser tomada como um texto de ciências. Para eles, a Bíblia contém ensinamentos pertinentes às suas vidas espirituais. Ela expressa idéias espirituais sobre a natureza de Deus e a relação de Deus com os homens e o resto do universo. Estas pessoas não acreditam que a Bíblia deva ser levada ao pé da letra quando o assunto é uma questão de descoberta científica. A Bíblia, dizem eles, deveria ser lida por suas mensagens espirituais, não por suas lições de biologia, física ou química. Esta costumava ser a visão comum entre os estudiosos de religião. Interpretações alegóricas da Bíblia remontam a Philo Judaeus. Análises filosóficas do absurdo das concepções populares dos deuses eram feitas por filósofos como Epicuro (342-270). Os cientistas fundamentalistas da criação, entretanto, exigem que a Bíblia seja lida como um não-filósofo não-instruído poderia lê-la. Eles não tem nenhum gosto por interpretações alegóricas que não tenham apelo populista imediato e evitam qualquer coisa que lembre uma investigação filosófica profunda.

criacionismo e política

Sem o rigor filosófico e a estrutura intelectual dos grandes pensadores religiosos do passado, os defensores atuais da ciência da criação têm feito campanhas para ter sua versão bíblica da criação ensinada como ciência nas escolas públicas dos EUA. Um dos seus sucessos foi no estado de Arkansas, que aprovou uma lei exigindo o ensino do criacionismo nas escolas públicas (até 1968 era ilegal ensinar evolução em Arkansas.) Em 1981, entretando, a lei foi considerada inconstitucional por um juiz federal que declarou o criacionismo religioso por natureza (McLean v. Arkansas). Uma lei semelhante de Louisiana foi revogada pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1987 (Edwards v. Aguillard). A Louisiana então aprovou uma lei, a pretexto de promover o "pensamento crítico", exigindo que os professores leiam em voz alta uma advertência antes de ensinarem a evolução. Esta artimanha foi derrubada pela Corte de Apelos do 5o. Circuito. Outra tática foi tentada pelo biólogo criacionista John Peloza em 1994. Ele processou a escola do seu distrito por forçá-lo a ensinar a "religião" do "evolucionismo". Ele perdeu e a Corte de Apelos do 9o. Circuito determinou que tal religião não existe. Também é importante observar que em 1990 a Corte de Apelos do 7o. Circuito regulamentou que distritos escolares podem proibir o ensino do criacionismo, desde que este é uma forma de advocacia religiosa (Webster v. New Lenox School District). Muitos líderes religiosos apoiam esta regulamentação. Eles reconhecem que permitir que distritos escolares ensinem criacionismo é favorecer as visões religiosas de um grupo em detrimento das visões religiosas dos outros.

Cientistas da criação podem ter falhado em suas tentativas de ter a evolução banida das salas de aula e de ter o criacionismo ensinado lado a lado com a evolução. Entretando, os criacionistas politicamente ativos não desistiram; eles apenas mudaram de tática. Os criacionistas têm sido encorajados a concorrer para os conselhos escolares locais a fim de tentar desta maneira obter o controle do ensino da evolução. Conselhos escolares podem determinar que textos as escolas podem e não podem utilizar. Os criacionistas que reclamam aos conselhos escolares sobre o ensino da evolução têm mais probabilidade de ser bem sucedidos em seus esforços de censurar os textos científicos se o conselho escolar tiver vários criacionistas.

No Alabama, os livros de biologia carregam uma advertência que diz que a evolução é "uma teoria controvertida que alguns cientistas apresentam como uma explicação científica para a origem dos seres vivos. . . Ninguém estava presente quando a vida apreceu pela primeira vez na Terra. Logo, qualquer declaração sobre a origem da vida deve ser considerada como uma teoria, não um fato." No Alabama, imagino, se você for acordado pela neve no chão, mas ninguém tiver visto nevar, então você pode apenas propor uma teoria sobre a origem da neve. O grande estado do Alabama aparentemente está apostando que seus estudantes são estúpidos demais para reconhecer uma liguagem que tente enganá-los e manipulá-los.

Em agosto de 1999, o Conselho estadual de educação do Kansas rejeitou a evolução e a teoria do Big Bang como princípios científicos. O conselho de 10 membros votou por seis contra quatro por eliminar estes tópicos dos currículos de ciências. O Conselho do Kansas não baniu o ensino da evolução e da teoria do Big Bang. O Conselho simplesmente removeu qualquer menção da evolução e da teoria do Big Bang do currículo de ciência e dos materiais utilizados para testar os estudantes de graduação. Os criacionistas, como o membro do Conselho Steve Abramas, um ex-líder do Partido Republicano do estado, aclamou a decisão como uma vitória na guerra contra os evolucionistas. Os criacionistas querem que as crianças acreditem que Deus as fez e a todas as outras espécies individualmente com um propósito. Eles não querem que as crianças pensem que um poder divino poderia estar por trás do Big Bang ou da evolução das espécies porque isso abriria a possibilidade de que Deus pudesse não existir. Estas teorias científicas, como todas as teorias científicas atuais, não fazem nenhuma referência a Deus. O criacionismo mantém que Deus criou tudo, uma crença que não deixa nenhum espaço para uma explicação da existência e da natureza das coisas sem referência a Deus. Se uma criança aprender ciência, esta criança talvez um dia conclua que Deus é uma hipótese desnecessária. Crianças não devem aprender ciência, ou devem aprender que a ciência é um repositório de erros como a evolução e a teoria do Big Bang.

a guerra contra a evolução

Ao mesmo tempo que os criacionistas militantes estão tentando censurar livros que tratam a evolução adequadamente, reclamam da censura contra os trabalhos criacionistas.* Esta tática de combater fogo com fogo levou o criacionista Jerry Bergman a argumentar que a evolução (diferentemente de Gênesis, eu suponho) ensina que as mulheres são inferiores aos homens. O objetivo dos criacionistas militantes atualmente é desmascarar a evolução sempre que possível, e não avançar o conhecimento científico (veja Revolução Contra a Evolução.) Uma de suas táticas favoritas é a de por a culpa por todos os pecados e crimes na falta de estudo adequado da Bíblia, e no ensinamento de teorias "sem Deus" como a evolução e a teoria do Big Bang. Marc Looy do grupo Answers in Genesis (Respostas em Genesis) afirma que a votação de Kansas foi importante porque

alunos de escolas públicas estão sendo ensinados que a evolução é um fato, que eles são apenas produtos da sobrevivência do melhor adaptado. . . Isto cria um senso de falta de propósitos e falta de esperanças, o qual eu acredito que leve a coisas como a dor, o assassinato e o suicídio.

Que não há nenhuma evidência científica que apoie estas afirmações é uma questão de indiferença para aqueles que acreditam nela. Quando a ciência claramente não apoia suas crenças, eles a atacam como à serviçal de Satã. Imagino o que o Sr. Looy tem a dizer sobre Identidade Cristã (Buford Furrow Jr.) e a Igreja Mundial do Criador (Benjamin Nathanial Smith), ou Erich Rudolph, ou Operação Resgate (Randal Terry) e outros grupos amantes-da-Bíblia que pregam o ódio e inspiram a violência e o assassinato. O que ele diria sobre Matthew e Tyler Williams que, nas palavras de sua mãe, "exterminaram dois homossexuais" porque isso é o que a lei de Deus [Levítico 20:13] exige? (Sacramento Bee, "Expert: Racists often use Bible to justify attacks," [Expert: Racistas freqëntemente usam a Bíblia para justificar ataques] por Gary Delsohn e Sam Stanton, 23 de setembro de 1999.*) Estes assassinos certamente encontraram uma existência rica em propósitos, mas claramente não existe nenhuma conexão entre riqueza de propósitos e o fim da dor, assassinatos ou suicídios. Se mais pessoas tivessem sido forçadas a ler citações bíblicas em paredes de salas de aulas ou seus livros escolares, pelo que sabemos, teria havido mais, não menos, dor, assassinatos e violência. O fato é que apelos como o do Sr. Looy são pouco mais que afirmações deseperadas de pessoas que estão ultrapassando todos os limites em seu esforço de ter sua interpretação da Bíblia aceita como verdadeira. É como se esses criacionistas militantes parecessem pensar estar engajados em uma Guerra Santa.

Este desespero é evidente a partir do fato de que, a despeito de numerosas correções feitas pelos evolucionistas, os criacionistas militantes ainda tentam fazer com que o público associe a evolução com o Darwinismo Social. Esta tática do straw man é comum e é exemplificada na seguinte carta ao Sacramento Bee. A carta foi uma resposta ao artigo sobre um expert que alega que os racistas freqüentemente usam a Bíblia para justificar seu ódio.

É a evolução Darwiniana, não as Sagradas escrituras, que justifica o racismo... a evolução ensina a sobrevivência do melhor adaptado, incluindo (como Hitler reconheceu) sobrevivência do "ramo" da árvore da família humana melhor adaptado. Na evolução autêntica não há lugar para a verdadeira igualdade. Este mesmo pensamento evolucionista está por trás do ódio que os grupos racistas demonstram em relação aos homossexuais. Eles vêem os homossexuais como defeituosos, logo inferiores (Scott Lively 3/10/99)

A visão de que a teoria de Darwin da seleção natural implica em racismo ou desigualdade é uma afirmação feita por alguém ou ignorante das teorias científicas da evolução, ou por alguém que conhece a verdade e acha que uma mentira divulgada em nome da religião é uma mentira moralmente justificável. O fato é que a grande maioria dos ateus e a grande maioria dos criacionistas não sai por aí odiando e matando pessoas. Esta controvérsia inteira, introduzida pelos criacionistas militantes, é uma pista falsa e cada momento gasto debatendo esta questão rouba precioso tempo e energia que poderiam ser usados em um estudo sério das causas da violência e do ódio que abundam atualmente.

o criacionismo militante evolui

Os criacionistas militantes chegaram a criar novos conceitos que, embora inúteis para a biologia evolucionária científica, são úteis na polêmica guerra contra a evolução. Eles inventaram uma distinção entre macroevolução e microevolução para permitir que eles aceitem o desenvolvimento e as mudanças dentro das espécies, sem exigir que eles aceitem o conceito de seleção natural. Um de seus líderes, Doug Sharp, diz a respeito da macroevolução:

A Macroevolução é a tentativa direta de explicar a origem da vida desde as moléculas até o homem em termos puramente naturalistas. Ao fazer isto, ela afronta aos cristãos porque ela deliberadamente tenta se livrar de Deus como o criador da vida. A idéia de que o homem é o resultado de milhões de felizes acidentes que encontraram seu caminho pela mutação, desde o lodo, através da cadeia alimentar, até os macacos, deveria ser ofensiva para qualquer pessoa pensante. *

O que deveria ser uma afronta a muitos criacionistas cristãos e não-cristãos é a insinuação de que, se alguém não aderir à interpretação cristã fundamentalista militante da Bíblia, este alguém está ofendendo a Deus. Muitos criacionistas acreditam que Deus está por trás do belo desenrolar da evolução *. Não há nenhuma contradição em acreditar que o que parece ser um processo mecânico e sem propósito a partir da perspectiva humana, possa ser teleológico e divinamente controlado. Pó ou lodo, o que importa? Nenhum dos dois é um quadro bonito, se alguém escolher este aspecto para focalizar. Ofensivo para as pessoas pensantes é sugerir que as visões estreitas e preconceituosas de uns poucos indivíduos deveriam ser tratadas como do mesmo nível que as grandes mentes religiosas que acham que a ciência e a religião não são inimigos naturais. Ofensivo para pessoas pensantes é sugerir que apenas as idéias religiosas pessoais de alguém têm validade e que, porque as crenças pessoais de alguém não podem reconciliar Gênesis com a ciência moderna, a religião de qualquer outra pessoa que for capaz de fazê-lo é uma falsa religião.

Veja verbetes relacionados sobre Deus e pseudociência.


leituras adicionais

Cramer, J.A., “General Evolution and the Second Law of Thermodynamics,” in Origins and Shape, D. L. Willis, ed., (American Scientific Affiliation, Elgin, IL, 1978).

Dawkins, Richard. River Out of Eden: A Darwinian View of Life (1995, BasicBooks). $8.00

Dawkins, Richard. Climbing Mount Improbable (1996 Viking Press). $11.96

Ferris, Timothy. The Whole Shebang : A State-Of-The-Universe's Report (Touchstone, 1998). $11.20 

Gardner, Martin, Fads and Fallacies in the Name of Science (New York: Dover Publications, Inc., 1957), ch. 11. $6.36

Gould, Stephen Jay, "Darwin and Paley Meet the Invisible Hand," in Eight Little Piggies (New York: W.W. Norton & Company, 1993). $10.36

Gould, Stephen Jay, "Evolution as Fact and Theory," in Hen's Teeth and Horse's Toes (New York: W.W. Norton & Company,1983). $11.16

Gould, Stephen Jay, Ever Since Darwin, (New York: W.W. Norton & Company, 1979).$9.56

Haught, John F. God After Darwin : A Theology of Evolution (Westview Press, 1999). $17.50

Haught, John F. Science and Religion : From Conflict to Conversation (Paulist Press, 1996). $11.96

Pennock, Robert T. Tower of Babel: The Evidence Against the New Creationism (M.I.T. Press, 1999) $35.00

Pilmer, Ian. Telling Lies for God: Reason vs. Creationism (Random House, New South Wales, Australia: 1994).

Schadewald, Robert. "Creationist Pseudoscience," in Science Confronts the Paranormal, edited by Kendrick Frazier. (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books,1986). $19.16

Shermer, Michael. Why People Believe Weird Things: Pseudoscience, Superstition, and Other Confusions of Our Time, chs. 9-11,  (W H Freeman & Co.: 1997) $16.07

©copyright 1998
Robert Todd Carroll

Traduzido por Ronaldo Cordeiro

Última atualização: 2001-06-24

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